segunda-feira, 11 de junho de 2018

Vida doce mistério

O que é desperdiçar a vida?
Ela não é um líquido mensurável, que de vez em quando escorre e se perde. Não é igual chuva que às vezes cai, outras só da indícios. Que a vida existe e não estamos mortos. É a única certeza. Como ela se processa, no interior de cada ser que é dito vivo, é outro mistério, quase tanto quanto a morte. Não basta ser chamado de vivo. Há animais que duram um dia. Alguns, horas. Nós, anos, e a cada novo ano fechamos um ciclo de balanço: o que estou fazendo com a minha vida? O que quero fazer dela, em diante? A gente às vezes até sabe responder, mas vai vivendo a vida e já não lembra mais. A gente, dos animais, deve ser dos mais esquecidos. Nasce sabendo viver, cresce contando com a morte. Se a gente teve medo de nascer? Quem consegue dizer? Mas da morte, tão simples quanto chegar ao mundo, temos medo. Temos medo de deixá-lo. Medo de deixar as coisas. Medo de viver as coisas. Medo de ser. Medo de sentir. Medo de encarar. Medo de bancar. Bicho medroso esse ser humano. Pensa e sente medo. Vive vivendo o medo. Viver o medo é matar o que ainda não foi. É não dar espaço pra nada crescer. É negar que estamos vivos, somos bicho solto, que nasceu pra se fazer pelo caminho. Não é a toa que não nascemos prontos. Somos dependentes por anos e anos, aprendemos cada gesto, passo, palavra, para nos fazermos pelo caminho. Somos agulha e tecido, se construindo por onde a gente passa. Somos gente.

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