quinta-feira, 6 de junho de 2019

Mergulho referenciado


Tenho pra mim duas (ou mais) grandes inspirações poéticas e filosóficas, que dizem de um conflito posto até então em prioridade: pensar e sentir. Alberto Caeiro em primeiro lugar, como heterônimo favorito do Pessoa. O sentir, em sua obra, alaga as páginas e acende o coração. É bonito e gostoso de ver. O pensar, aquietado, vai dando lugar pra um sentir sereno e passivo, contemplador do que é belo como é e está. Depois vem Caetano Veloso. Caetano aparece pra mim como poeta de ouvido, aquele a quem consigo me entregar de olhos fechados. A poesia das suas músicas fazem pensar e sentir ao mesmo tempo e a sensação é quase a mesma de usar uma droga sinestésica. Penso, sinto, vivo e não me disponho mais a um ou a outro mas me equilibro. E, em terceiro, uma referência que desequilibra mas intensifica. Maysa. A deusa do amor. A cantora da tristeza e dos desejos não compreendidos. Penetra em minha alma como uma minúscula agulha de tamanho mas imensa de intensidade. Sua combinação de voz, entonação, letra e melodia são embalos, por vezes, de coisas não ditas mas pensadas. Depois destes há outros. Mas quem quer que me conheça bem sabe que eu, ao falar de mim, vou também falar deles.

Vida doce mistério

Vida doce mistério.
O que fica da vida, afinal?
O que se sente ou o que se pensa?
Suspiros não comestíveis. Suspiros consumados. Desejo em forma de pensamento ou de ato. Porque, no fim, corpo e pensamento não se separam tanto: ambos não estão tanto ao nosso controle e ao mesmo tempo são o produto das nossas escolhas. Pensar e sentir é o que ficará quando nos nós formos daqui, tingindo as pessoas e coisas com as quais trocamos palavras, desejos e emoções.