sábado, 1 de dezembro de 2012

Tempo-idade

E quando alguém me perguntar de idade, e de sentir-se velho carregando o corpo novo, eu vou dizer:

'Me tornei antigo
porque a vida, tantas vezes, se demorou
e eu a esperei
como um rio aguarda a cheia.'
(trecho de Mia Couto)

e o mais estranho é perceber-se antigo vivendo na ânsia de experimentar o novo!
discretas contradições corriqueiras..

sábado, 24 de novembro de 2012

allá de la frontera

que soy yo sino una viajera
a bailar por la carretera en busca de realización

que soy yo sino una soñadora
a buscar en la carretera el alento de la emoción

por mi
nacida brasileña
con el alma extranjera

sábado, 3 de novembro de 2012

Fugas ao chão

Instáveis vontades, deslocadas sensações, perdidas no espaço, no tempo, nas circunstâncias do querer. O impulso e o ato, a realização nem sempre acompanhada destes. A insatisfação às vezes completa pelos mesmos!
Como entender, como acompanhar? Como saber? Porque saber? Sequer gostaria de estar aqui, a escrever em letras digitais, sem papel, sem tinta, sem pele. Em tempos de pressa a tela nos acompanha. Até onde me realizo? Até onde chega a vantagem?
Mas porque, porque, pensar em tempo, pressa, vantagem, desvantagem, benefício... Viver parece tão simples. Viver deveria ser tão simples. Tão mais leve!
Desregulado
interior ou exterior?
Me calo. Silêncio pode ser fuga, é ausência. Silêncio pode ser determinação ou falta de, ou perda de sentido de espaço, perda de chão. Perco o chão. Por vezes desejo mesmo que ele se desfaça... vá, não mais exista sob meus pés, a pressioná-los e exigir que estes caminhem! Que suportem o peso do chão..
Não, não desejo desfalecer. Não desejo não mais viver. Desejo não mais viver assim, a fugir do chão que por hora toca meus pés! Este viver não desejo mais... e por mais que tente expressar tal insatisfação o ato não me alivia. A expressão de um sentimento nem sempre vem acompanhada da compreensão sobre o mesmo!
Alívio! O que é senão cair o peso dos ombros, o que é que não aquela fuga de fugir ao chão. De fugir ao que pressiona a pele áspera dos pés firmes, que embora firmes estejam sem direção. Sem uma terra que possa voltar a pisar em paz. Pisar em casa.
Finalizo em não querendo finalizar, a expressão não conhece o fim. Cada ser que se expresse se reconhece da forma que lhe cabe. Sem mais desejos de fugas ao chão. Fim

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

E a comer maçãs..

Se o mundo menor fosse, se planetas redutíveis a cidades se transformassem em grandes círculos de intenso movimento: convívio. Se está chegada a hora de que planetas se reduzam a cidades, menos que isso talvez... se perto se chega a um grande mundo, mundo grande, habitado por criaturas cada vez menos capazes de olhar: à sua volta. Olhar, simplesmente, o que transpassa o limite dos muros próprios. Muros altos, vigiados por habitantes talvez intencionados a impedir que o limite escape: limite alto, muros altos.
Vigiados, talvez até monitorados em seus próprios inconscientes. Inconscientes, fracos, deturpados, deformados, controlados, moldados à sombra de Eva e Adão. Melhor mesmo seria comer maçãs.. comê-las e descobrir todos os mistérios do mundo, comê-las e enxergar quem está por trás da árvore que a sustenta: habitantes vigilantes.....
Ah, vigilância.. conosco desde os tempos em que maçã representava o mais temível dos medos. A que ponto chegaste! A que árvore de frutos proibidos estamos presos, frutos permitidos, frutos proibidos, quem julga a proibição? Vigilantes..
Vigilantes do medo, vigilantes do prazer, vigilantes do papel que em troca lhes garante luxúria.
Asco!
Quisera eu ter só uma casinha no mato. Sem maçã, sem vigilante, sem papel-luxúria. Sem o temor que permite aos grandes vigiar quem quer que se atreva a destituir o valor do papel.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

il faut oblier

pra expressar tristeza, alegria, tédio, insônia
pra acompanhar a tarde, a noite, o céu
minha eterna voz que traduz a alma

'ne me quitte pas'

segunda-feira, 25 de junho de 2012

interior

quieta,
me aquieto.
sonho,
desperto
soluço
me aquieto..

silêncio.
mais do que mil ruídos..

sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Considerar a nossa maior angústia como um incidente sem importância, não só na vida do universo, mas da nossa mesma alma, é o princípio da sabedoria." F.P.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

é feito semente, o amor

essa nossa pura semente
que tanto precisa de cultivo,
feito planta que nasce e busca, no anseio, o alimento do sol.
até que crie raízes e se estabeleça, por si só,
forte como tronco fincado no chão..

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

"Então eu escuto..."

Fala!

"Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto.."

E o escutar, em tempos de demasiado barulho
e raro silêncio,
é pedra preciosa...