quarta-feira, 26 de maio de 2010

Outros sonhos


Nessa brincadeira da vida, meu passo é leve. Nessa brincadeira já não existe medo, e a esperança toma conta de todos nós. E eu era um louco a perguntar, o que é que a vida vai fazer de mim?
Nessa brincadeira eu levitava a cada canção tocada ao som de uma flauta. Eu dançava, e brincava um pouco de ser feliz. Na brincadeira da vida as flores e somente elas eram o pano de fundo, colorido e intenso. O barulho das águas calmas era purificador, e e eu fechava os olhos feliz por preencher a alma de paz. Até transbordar.
A voz do meu povo a cantar acalmava mente e corpo. Nessa brincadeira eles faziam barulho e eu rodava, rodava, rodava, e não me cansava de girar e ver o mundo passar por mim. Ah, essa brincadeira! "Eu queria ser um tipo de compositor capaz de cantar nosso amor modesto. Um tipo de amor que é de mendigar cafuné, que é pobre e às vezes nem é, honesto."

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Estou Cansado

Estou cansado, é claro,
Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado.
De que estou cansado, não sei:
De nada me serviria sabê-lo,
Pois o cansaço fica na mesma.
A ferida dói como dói
E não em função da causa que a produziu.
Sim, estou cansado,
E um pouco sorridente
De o cansaço ser só isto —
Uma vontade de sono no corpo,
Um desejo de não pensar na alma,
E por cima de tudo uma transparência lúcida
Do entendimento retrospectivo...
E a luxúria única de não ter já esperanças?
Sou inteligente; eis tudo.
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto,
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá,
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Como alcançar o sucesso?

Mais uma consequência da sociedade individualista em que vivemos, os livros de auto-ajuda estão nos primeiros lugares dos livros mais lidos pelos brasileiros. Como alcançar o tão chamado sucesso, como alcançar a felicidade, verdadeiros manuais da vida. Seguimos o roteiro e assim podemos vivê-la. Não será muita comodidade?
O sucesso e a prosperidade estão relacionadas sempre ao acúmulo de capital, no incentivo à realização pessoal, e cada vez mais esta busca torna-se frequente. O conflito, os sentimentos, a vida em si, é acalmada e direcionada. De acordo com essa visão, o leitor ou participante recebe o equivalente a um placebo enquanto o escritor e o editor recebem os lucros.
Outra crítica feita é a respeito desta passividade. A vida é um conjunto de problemas e não há manual que os resolva, mas sim os que confortam. E é aí que está a questão. Assim como aqueles que buscam amparo e consolo na religião, os livros de auto-ajuda estão lá, e simplificam muitas questões difícies, questões que cabem apenas ao próprio indivíduo buscar e resolver através da vivência. Os livros encorajam as pessoas a focarem no desenvolvimento pessoal, em vez de se unirem a movimentos sociais para resolverem seus problemas.
Há, por outro lado, as contra-argumentações. Há visões que digam que alguns leitores buscam "respostas fáceis", mas isso não significa que as respostas nos livros são de fácil aplicação. Um livro pode sugerir um método de agir (fácil ou não), mas apenas o leitor pode levá-lo adiante, e muitos leitores tem mais vontade de fazê-lo que outros. Os que fazem o esforço geralmente tem mais melhorias em suas vidas.
Melhorias ou não, não podemos deixar de assumir a influência exercida por esses livros, e a violência ideológica presente nestes. Enquanto a busca por comodidade e a auto-realização for maior que o desejo pelo bem comum, estes livros de auto-ajuda estarão nas prateleiras, e, como agora, no ranking dos mais lidos e vendidos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Caminho de Fulô

Peguei flores no caminho
Pra dar a você
Fulorzinha tá no caminho
E vai levar você
Cravo, rosa miudinha
Planto pra cheirar
Deixo as flores no caminho
Pra poder voltar
Água, espinhos, o tempo todo que tenho
Espero não ter mais lugar pra água nos meus olhos

Comadre Fulozinha