terça-feira, 26 de abril de 2016

Carta a uma mãe que nasceu

Você cresceu e gerou vida
Sente-se mais próxima da morte, agora.
Sente-se mais frágil, o nascimento muito tem de grande e inexplicável no limite da razão humana.
Você viu seu corpo revelar as leis da natureza
Você vê, nos segundos, o que é a vida crescer do broto
Você aprende o que é mudança
Tão longe de caixas e fitas, tão perto da respiração irregular que te acompanha


É no suor das horas que o choro te acompanha, miúdo, contínuo, dimensionando o espaço como nunca antes dentro de um quarto tão pequeno que se tornou onde você está agora
Na janela tudo parece correr
Tudo acontece
E no nascimento, a vida pára.
Você renasceu. Você nasceu.
Vai aprender de novo o cheiro das folhas, o ritmo do vento
Vai descobrir o sabor do que te alimenta, do que te rodeia
Teus pés vão encontrar o chão de novo, agora 
Mais liso, mais duro, mais frio
Mais cheiroso, talvez
Você nasceu inteira e tem dois corpos agora
Prontos a descobrir o mundo novamente

Nascer mãe é uma experiência de quase-morte
Mas tão viva
Que se renasce o que se ausenta,
O que se apresenta
E o que, para sempre, irá mudar

Nascer mãe, nascer menino
A menina, a criança
Com elas,
O mundo, novamente!