O que há de errado com você?
Leia de novo, o que há de errado com você?
Essa não é uma pergunta direcionada ao outro, mas a si. Vamos, diga, o que é que há de tão errado? Em ser como se é, em saber-se como se é, em existir tal qual você existe.
Acho que não há nada de errado. Mas talvez a gente se sinta assim um tanto desconsertado em alguns momentos, como se sempre fosse necessário algum ajuste.
Nossos modos aceitos não são mesmo muito convidativos às singularidades e aos modos de viver diferentes do habitual. Não é também nem um pouco receptivo ou acolhedor às autenticidades que se diferenciem demais. A escapes de loucura que tragam algum tipo de desordem.
Nossos modos são incentivados a serem claros, limpos, ordenados, superficiais, lógicos, objetivos, rápidos, exatos. Racionais e diretos. Dúvidas, questionamentos, alguns níveis de sensibilidade ou profundidade desestabilizam rápido demais tudo o que está em ordem e em paz.
Ordem e progresso.
Mas não queremos ordem e progresso.
Queremos sentidos e processos.
Abertura e anti-retrocesso.
Liberdades, profundidades, queremos as coisas ao inverso.
E aí, o que há de errado com você?
Só é possível estar errado se houver um lado certo
Só é possível estar certo se houver um lado errado
Não existimos, conflitamos.
Que a gente pudesse apenas só existir.
Existir e nada mais.