quarta-feira, 9 de maio de 2018

Mãe

Mãe.
Foi com ela que eu aprendi a força das coisas sutis. Foi com ela que eu aprendi, também, a descobrir que as pessoas são feitas de fraquezas. Ela nunca teve muito medo de dizer que não sabia. De se revelar, de mostrar onde doía, a parte que faltava. Isso me incomodava um pouco. Eu queria que ela fosse uma fortaleza, um lugar sempre seguro onde eu pudesse me ancorar. E daí, com o tempo, eu percebi que eu sempre estive ancorada, mas numa espécie muito única de fortaleza. Que com delicadeza e discrição me oferecia muito. Me dava colo. Me levantava. Dividia comigo as dores e as delícias de cada conquista, cada passo. Cada tropeção.
Quando virei mãe, então, eu entendi algumas coisas. Entendi que não se pode doar ao outro aquilo que falta em si. Que não se sabe cuidar de alguém sem perceber (e gritar) às vezes que precisamos de cuidado, também. Entendi o peso que se carrega quando, emprestando uma nova vida ao mundo, nos tornamos duplamente responsáveis por ele. Entendi o porquê mostrar as fraquezas, algumas dores, algumas perguntas, a quem quer que você seja uma fortaleza que sempre está lá: porque a gente corre o risco, sem saber, de acreditar nisso e fazê-los acreditar que existe um existir humano assim. Se existe, está ao menos enterrado em camadas e camadas de uma pessoa real. Ainda falta muito pra entender. E às vezes tenho saudade de ser apenas filha. Mas compartilhar o mundo com você foi muito do que me construiu. E muito do que constrói meu filho. Quando vivemos esses momentos, que não são tão bons, que eu gostaria de ter sido outra, ou ter feito diferente, penso: eu também o apresento o que é ser humano. E, às vezes, não dá pra entender, a gente só vive. E passa. E vai se construindo. Se eu tivesse sabido antes que você também estava se construindo... Talvez tivesse sido diferente. Mas não teria sido eu e você.