terça-feira, 22 de novembro de 2022

atravessamentos

tem uma espécie de planta que eu não vou lembrar o nome, mas que, quando a gente encosta, ela se fecha. também é chamada de dormideira ou sensitiva, mas não é a márcia sensitiva, é a planta sensitiva.

parecido com quando a gente é tocado por alguma coisa, ou por alguém, e é atravessado por ele. é disruptivo. e o que nos atravessa não vê camadas, ou faces, ou barreiras: simplesmente acontece. e acontecendo, passa a existir e e a refazer o que já tinha. tinge de várias outras cores as cores que já tinham. 

resta saber se a sensação de ser atravessado é maior que a angústia de passar por isso, ou se o inédito do atravessamento compensa mais.

vejamos.

do que foi e do que será

 hoje foi o erasmo. na última semana, a gal e o boldrin. e daqui a pouco se vão mais alguns, com pesar.

hoje também no programa de rádio que eu gosto de escutar o tema era o lugar da música na sua vida. e os ouvintes contaram histórias alegres, tristes, emocionadas de músicas que fizeram parte da história de vida deles. uma das histórias era de uma mulher, já senhora, que perdeu a mãe muito repentinamente. e, quando isso aconteceu, uma música em específico virou o seu maior consolo e companheira de luto. as minhas são várias. essa semana também, em conversa com um amigo, falamos sobre como a música pode ligar toda uma comunidade.

música e história são duas coisas tão interligadas que é quase impossível alguém não ter uma história pra contar. ou não lembrar do que já viveu embalado por alguma.

lembro que quando a Gal morreu, seu filho, Gabriel, contou que questionou o porquê do velório ser aberto ao público e não só aos familiares, já que ele, adolescente ainda, queria viver seu luto com mais privacidade e isolamento. o que lhe disseram é que o artista é pro público, às vezes, alguém que participou mais da vída cotidiana e da intimidade que os próprios familiares, e que a morte de um artista pode doer no público muito mais que em pessoas da própria família.

faz tanto sentido. a morte de um artista é um luto coletivo da nossa identidade enquanto pessoa e enquanto brasileiro. é um luto de uma história muito bem sentida e intensamente viva no nosso coração.

não gosto de imaginar quem vai ser o próximo a precisar nos deixar. ainda bem que nos deixam só fisicamente, porque sua história, sua música e sua vida vão para sempre continuar.

quinta-feira, 10 de novembro de 2022

tudo sobre o amor

o amor circula meus pensamentos e impressões sobre a vida desde que eu tinha idade suficiente pra questionar o que era e o que importava ter amor.

lembro da sensação de sentir amor por uma situação e lembrar dela repetidamente tentando sentir de novo o que aquilo tinha provocado.

lembro de sentir o peito quente, como se uma fogueira queimasse por dentro e a vontade fosse transbordar.

lembro da sensação de me sentir animada com alguma coisa que iria acontecer ou que talvez fosse ser entregue como presente.

e lembro de nunca discernir se a sensação era de se sentir amada, ou sentir amor, ou querer dar amor, ou sentir que vivia algo amoroso - que não é amor - mas tem amor dentro.

acho que hoje eu diria que o amor é um ingrediente, igual a farinha é no pão. não é algo tão puro ou direto ou concreto. é algo que faz parte.

a farinha tá em tantos lugares e preparada de vários jeitos. e a nossa experiência não é só uma: são várias. fazer o pão ou a pizza com a farinha e sentir ela escorrendo e melecando no dedo sabendo que aquilo vai virar algo gostoso. sentir o cheiro do forno quando aquilo tá cozinhando e não saber descrever o prazer que é sentir um cheiro e imaginar um gosto. comer com os olhos aquilo que ficou bonito e que pelo olhar dá pra sentir o gosto na boca. comer! dá pra descrever a sensação que é comer quando você tá com fome e sabe que é gostoso?

não é a farinha. não é o amor. é o onde, quando, como, com quem, é o sentir, não fantasiar. e também não quer dizer alguma coisa. na realidade não quer dizer nada. a não ser que a gente faça algo com ele (e o saboreie quando estiver sendo servido) e absorva, consuma, desfrute de onde ele estiver.

porque a gente se acostumou a consumir e restringir amor ao amor romântico e acabou consumido por ele no fim sem se sentir amado?

o amor é a farinha. tem até no supermercado. é só a gente saber ver, saber preparar, saber desfrutar e saber oferecer. e é melhor que a farinha: não precisa de receita. talvez seja exatamente nesse ponto que a gente peque, procurando um jeito certo, mas isso é o nosso aprendizado de roteiros. viver não tem roteiro, não tem sequência, é oceano: estamos mergulhados no amor sem saber olhar em volta e mergulhar em profundidade. façamos. vamos amar!