quarta-feira, 11 de julho de 2018

Devaneios

Li em um desses escritos de muro "He olvidado mis ojos en algun lugar del paisaje." E Fernando Pessoa, como algum heterônimo, disse escrever para diminuir a febre das sensações, e então, fazia paisagens com o que sentia. De quantas paisagens somos feitos e o quanto recorremos a elas, diariamente, em cada pouso inesperado da mente? São incontáveis. E, assim como tudo que é vivo, cresce à medida do cultivo. Se voluntário ou não, não sei se cabe descobrir, mas a dimensão desses cultivos diários e cada vez mais profundos, vão criando raízes cada vez mais dentro, e dentro, e dentro. Talvez por isso às vezes a gente sinta que pode virar do avesso. Há de dar mais espaço a algumas paisagens que teimam em, além de crescer, se reinventar. Que insistência a nossa em dar nome e endereço às coisas de dentro, sim, eu também me pergunto o porquê tentar desvendar tanto mistério. Cada cabeca, um mundo, cada mundo, um mistério. Vida, doce mistério, já dizia Caetano. Onde é que acertamos os sabores, no paladar ou nos objetos? O amargo e o doce estarão disponíveis ou são mera percepção de quem degusta? A saber... A saber.

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