segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Rosa murcha

Tem dias que a gente quer se esconder do mundo
Ficar debaixo da coberta e nunca mais sair
Se perder na água até que o corpo se dissolva, até que as idéias se esvaiam
E se esqueçam de existir

Tem dias que é melhor esquecer o mundo
Sufocar o travesseiro pra ver se existe algum outro
Que não tao duro, que não tao triste..

Tem dias que são tantos dias
E o que eu não daria para que fossem raros
Os dias em que a vontade é de não ser dia
Não ser noite
Não ser nada

por mim.

3 comentários:

Bernardo disse...

Lindo texto, Soraya, =)

lembrou-me uma passagem de Thomas Mann: "quando um dia é como todos, todos são como um só" (!)

não se sinta sozinha, porém:

"Entrei num restaurante com uma amiga e logo deparei com Carlinhos de Oliveira, o que me deu alegria. Olhei depois em torno. E quem é que eu vejo? Chico Buarque de Holanda. Eu disse para Carlinhos: quando meus filhos souberem que eu o vi, vão me respeitar mais. Então Carlinhos, que se sentara na nossa mesa, gritou: Chico! Ele veio, fui apresentada. Para a minha surpresa, ele disse: e eu que estive lendo você ontem!
Chico é lindo e é tímido, e é triste. Ah, como eu gostaria de dizer-lhe alguma coisa - o quê? - que diminuísse a sua tristeza.
Contei a meus dois filhos com quem eu estivera. E eles, se não me respeitam mais, ficaram boquiabertos.
Então eu tive uma idéia e não sei se ela irá adiante; se for, contarei a vocês. Era chamar Chico e Carlinhos para me visitar em casa. Eu os verei de novo, e sobretudo meus filhos os verão. Falei dessa idéia e um de meus filhos disse que não queria. Perguntei por quê. Respondeu: porque ele é uma personalidade. Eu lhe disse: mas você também é, aos sete anos de idade ouvia tudo de Beethoven que tínhamos e pedia mais, tanto gostava e sentia e entendia.
Mas quero respeitar meu filho. Disse-lhe: se eu convidar Chico, se ele vier, você só aperta a mão dele e, se quiser, sai da sala.
Também achei Carlinhos triste. Perguntei: por que estamos tão tristes? Respondeu: é assim mesmo.
É assim mesmo." (Clarice Lispector)

bjo,

Bernardo

Bernardo disse...

(achei melhor desenvolver o que eu pretendia com o "é assim mesmo")

a Clarice, o Chico, você (segundo me parece pela sua postagem), tantas outras pessoas e eu, inclusive, somos tristes - ou estamos tristes mais que eventualmente - porque o mundo é "tao duro, (...) tao triste";

tristes porque desanimados, tristes porque impotentes, porém nem sempre tristes porque indignados - e importa mesmo é ficar indignado: a tristeza leva à inércia, enquanto a indignação ao movimento.

nós temos inúmeras razões para estarmos tristes e, se não estamos todos, é porque se tornou insensível quem não está, ou hipócrita.

vc não. pelas suas postagens, nota-se que vc é sensibilíssima. isso é ótimo, além de raro.

vamos conversando...

bjos

Soraya R disse...

Refleti sobre o estar triste e o estar indignado. Concordo com vc.. mas quando a tristeza não é de indignaçao, pouco temos a fazer. Da vontade de fugir do mundo, ou tranformar essa tristeza em algum movimento que nao a inércia! Obrigada pelas palavras. Vamos conversando, bj